sexta-feira, 5 de maio de 2017

Entrevista com Robinson de Castro, presidente do Ceará

                             Robinson de Castro comprou o título de sócio proprietário em 2006, quando ainda era torcedor de arquibancada, após o Ceará perder o clássico para o Fortaleza. Com a chegada de Evandro Leitão a presidência do clube, Robinson passou a ser o vice-presidente do clube e, desde 2015, comanda o Alvinegro de Porangabuçu.

- Entrevista

Rafaela: Quantos sócios torcedores o Ceará tem atualmente?
Robinson de Castro: Em torno de 7 mil sócios. Isso varia muito. As vezes sobe muito, as vezes desce.

Rafaela: Quem cuida do programa do sócio torcedor?
Robinson de Castro: É uma empresa terceirizada, a Fides. A empresa foi contratada na gestão do Evandro.

Rafaela: O Ceará tem plano de abrir alguma loja em shopping?
Robinson de Castro: As lojas (Sou Mais) são terceirizada também. A empresa Fides nos comunicou que tem interesse em abrir em um shopping. As vezes é positivo, as vezes não. Depende muito do mercado do consumidor.

Rafaela: Tem algum tipo de brinde aos que seguem com adimplência do sócio? Antes a revista 1914 chegava em casa para os sócios em dia.
Robinson de Castro: Precisa criar um pouco de volume no número de adesões. A 1914 também sofre com a ausência de recursos.

*Apesar do presidente Robinson de Castro ter preferido não dizer qual shopping está sendo estudado para abrir uma loja do Ceará, soubemos por fontes que deve ser o shopping Rio Mar.

Rafaela: A Cearamor recebe ingresso de graça?
Robinson de Castro: Não! Eles compram ingresso. Eles solicitam uma quantidade de ingresso, o clube fornece e eles prestam conta.

Rafaela: Tem alguém dentro do clube que preste atenção nos jogadores que se destacam no Campeonato Cearense?
Robinson de Castro: Nós temos um departamento que cuida disso, que é o analista de desempenho. Quando vamos contratar o jogador, tem a ficha do jogador, com todas as informações. Faz uma análise técnica do jogador. Comportamento extracampo, como trabalha em grupo, histórico de lesões... Todo um levantamento pra identificar se aquele jogador jogou num time que aguente o peso como a camisa do Ceará. As vezes o jogador vai bem em um clube, mas põe a camisa do Ceará e pesa.

Rafaela: O Paysandu arrecadou mais ou menos R$10milhões com vendas de camisas com a marca própria. O Ceará pensa em fazer isso?
Robinson de Castro: Normalmente quando o pessoal procura a produção própria, é porque não conseguiu fechar com uma grande marca. Teve uma época que fabricávamos nossa própria camisa, um pouco antes da chegada do Evandro.

Rafaela: Ano passado criou-se um boato que a Topper pagava a metade do salário do jogador Ciel.
Robinson de Castro: Não, a Topper não paga salário de ninguém. Fechamos o salário com o Ciel de R$50 mil. Ficaram especulando que era R$150 mil.

Rafaela: O Ceará tem planos de ampliar a sede para fazer jogos menores?
Robinson de Castro: Interesse nós temos, mas para viabilizar precisamos de dinheiro. Hoje o desafio é manter em dia o que se tem. Sem receita do bilheteira, todo mundo com dificuldade de renovar seu sócio por falta de dinheiro. Todos nas suas casas estão refazendo sua conta. Aí tem televisão que distancia o torcedor do estádio.

Rafaela: O clube pensa em uma forma melhor (de pagamento) para o torcedor poder se associar? 
Robinson de Castro: O problema é que algumas pessoas que pagam pelo boleto, muitas vezes pagam só quando o time ganha. Os planos geram responsabilidades (para o clube). Mudar para boleto, já tentamos, mas não funcionou muito bom. Mas é um desafio encontrar um mecanismo (para melhorar a forma de pagamento do sócio).

Rafaela: O que falta pra voltar pra série A?
Robinson de Castro: Nosso time passou esses últimos anos, com exceção de 2015, sempre brigando na parte de cima da tabela, sempre sendo o favorito ao acesso. O Brasil todo dizia que o Ceará era o favorito. Mas a gente sempre teve uma preocupação muito grande com um time que proponha muito o jogo ofensivamente e a gente sempre deixava o nosso time um pouco aberta, não tão forte defensivamente e eu acho que hoje começamos muito bem. A gente precisa pensar agora do meio pra frente.


Rafaela: A diretoria e os jogadores do clube não estão distantes do torcedor?
Robinson de Castro: Acho que talvez uma coisa que trincou bastante foi o resultado do Cearense do ano passado e acabou criando uma atmosfera muito ruim entre o clube e a torcida, tanto que quando estávamos indo muito bem na série B a torcida não estava tão presente.


Rafaela: Há intenções de alterar o estatuto do clube para que o sócio adimplente possa votar para eleger o presidente?
Robsinon de Castro: O estatuto do clube só pode ser alterado por uma Assembleia Geral dos Sócios Proprietários.


Rafaela: Qual foi o principal motivo do fracasso na Série B de 2016?
Robinson de Castro: Eu acho que houve uma acomodação, uma zona de conforto por parte dos atletas, e quando o grupo acordou já tinha perdido a confiança e quando começou a resgatar a confiança perdeu o encaixe.

Rafaela: Não houve rachadura no grupo?
Robinson de Castro: Não, zero! Esse negócio de racha de grupo é coisa que todo mundo. Mas quantos grupos rachados não conseguem seus objetivos e a gente nunca atrasa salário e não chega. O futebol é assim, não tem uma lógica!

Rafaela: O Ceará chegou a ter contato com o jogador Everton para contratá-lo?
Robinson de Castro: O empresário dele nos procurou, ofereceu o jogador. Na hora eu fiquei cético pela história no Fortaleza do que pela figurado do jogador, o Givanildo se interessou, comentei com algumas pessoas que nos ajudam no clube, sinalizei positivamente sem ter assinado nada e o empresário dele, não sei com qual objetivo, verbalizou isso na imprensa, houve um ataque da torcida do Ceará hostilizando o jogador, ele tentou se justificar com a nossa torcida, depois mandou um áudio que não vinha porque estava sendo hostilizado e a coisa acabou aí. Mas quando começou aquela confusão (a torcida do Ceará não querer o jogador), eu já estava considerando que ele não vinha. E também não tinha nada assinado. Tanto que já tínhamos nosso jogador alinhado, que era o Pedro Ken. Em nenhum momento eu falei ou anunciei a contratação dele (Éverton). Vários jogadores de lá se oferecem para cá. Eu sou torcedor, mas meu papel não é ser torcedor!


Rafaela: Qual foi o motivo da rescisão do contrato do Douglas Baggio?
Robinson de Castro: Apareceu um interesse do Luverdense, ele estava com pouco espaço aqui no clube, o Flamengo aquiesceu que ele fosse pro Luverdense e nós liberamos o jogador.

Rafaela: O Ceará pretende dar mais espaço aos jogadores da base?
Robinson de Castro: O Raul está aí! Agora precisa do jogador chegar e fazer o que o Raul fez! Eles têm que aproveitar a oportunidade. Estou com o Clemer aqui (no time principal), um garoto de 17 anos. O Eduardo voltou pra base porque foi jogador o Campeonato Cearense da base e ele não ia ser muito utilizado agora, então era melhor ele jogar lá (nas categorias de base). Ele está sendo preparado!


Rafaela: Até que ponto a parcialidade da imprensa prejudica o Ceará? Não está na hora do clube combater isso?
Robinson de Castro: A gente as vezes faz isso de forma silenciosa, diretamente com o grupo de comunicação. Me preocupo de estar dando palco pra isso, porque as vezes é uma besteira tão grande que eles mesmos acabam retificando a matéria. As vezes não é o grupo, mas um estagiário fanático que está fazendo a matéria.



Foto: Cearasc.com / Robinson Comemorando
título estadual de 2017.



- Alguns trechos da entrevista

"Está aqui (sendo presidente do clube) é uma responsabilidade muito grande. Você acorda sem um centavo na conta pensando como você vai pagar todo mundo até o fim do mês. O torcedor ver os 90 minutos do jogo, aqui são 24h diárias de jogo, de risco. Você não dorme direito, fica preocupado."

"Manter o CT, manter aquela garotada, manter a alimentação deles. Correr atrás das coisas, pagar contas que aparecem. Paguei R$160 mil de uma conta de 2006. Nós fomos condenamos e eu paguei R$160 mil de uma ação cível. Eu ia usar o dinheiro para pagar uma da folha (salarial)e o dinheiro foi embora. Cadê o dinheiro? Tive que me virar pra arranjar dinheiro."

"É um desafio diário! É um desafio contínuo!"

"Para mim é uma missão. Eu assumi o clube na lanterna (da série B) de 2015. Todo mundo chegava para mim e dizia 'Tu é louco? Vai ser candidato? O time vai cair!' e eu dizia 'Vou ser candidato e, se cair, a gente sobe!'. Como vou virar as costas nessa hora pro clube? Se eu não fosse, ia me sentir um covarde. E conseguimos reverter a situação."

"O pior não é o torcedor que não reage, é o torcedor que estimula as pessoas a não reagir. É o torcedor que diz a você para não fazer sócio ou não ir ao estádio, que começa a jogar contra. Você está de que lado?"

"Ano passado chegamos a ser vice-líder e o pessoal xingando o time, dizendo 'vai cair'. Quando foi que nós saímos da lanterna (da série B de 2015)? Foi quando todo mundo se juntou com energia positiva."

"Você acha que o jogador vai se motivar, vai dar mais de si em campo pra que se ele não está sendo reconhecido? Se você hostilizar alguém, o torcedor não vai render."

"Precisa fazer um corte nos custos. A quantidade de jogadores que tínhamos na base diminuiu. A gente não pode está fazendo investimento no clube na mesma quantidade que fazia antes. É uma dificuldade muito grande. O problema é econômico mesmo!"

"Hoje são R$180 mil gastos com os custos da base." Ano passado era cerca de R$200 mil.

"Nós estamos precisando de ajuda financeira do torcedor tanto fazendo sócio quanto indo ao estádio."

"Eu passei minha vida todinha sem defender nada a ninguém. Não devo na minha empresa nem coisa nenhuma. Aí você fica preocupado se vai conseguir pagar o pessoa... isso tira o sono da gente. Desgasta muito!"

"Pra mim, não importa se o jogador é do time A, B, C ou D. Eu quero ver se ele vai resolver aqui, porque se resolver aqui a torcida abraça. A torcida crucificou o Wescley e eu falei 'eu vou manter!'. A torcida que crucificou é a mesma que tem saudade do Wescley."

                                             Texto: Rafaela Brasileiro.

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